terça-feira, 22 de abril de 2008

A desobediência Civil


"A desobediência civil" me chegou como uma indicação, e o engraçado é que a pessoa que indicou ainda não leu! [SURPRESA! :)] mas bem, de qualquer sorte, devo agardecer pela sensibilidade do meu "bem feitor" já que o livro é uma ótima pedida!

para contextualizar melhor o que pontuarei sobre o livro, vale dizer que ele nasceu como um manifesto, uma crítica do autor, Henry David Thoreau, aos desmandos do Estado, ao abuso dos impostos, e a excessiva obediência ás leis.

Claro que precisamos entender o cenário no qual o texto foi escrito: 1848; contrariedade ao sistema escravista e a defesa veemente da abolição e revolta pelo submissão à um Estado, governo que não entendia como legítimo.
considerando isto, o que impressiona é como um texto elaborado num contexto muito particular [há as diversas referências ao estado norte-americano de Massachusetts], em uma condição que em tese não existe mais [crítica ao sistema escravista], continua tão atual e pode influenciar até os dias de hoje.

Falando mais especificamente da referência que despertou a minha curiosidade pelo livro - o não pagamento de impostos e a consequente prisão de Thoreau - é incrível como ele narra a sua breve estadia atrás das grades. Na verdade, o que realmente é interessante como essa conseqüência é resultado de uma crença e principalmente da defesa dela.
Na opinião de Thoreau, "devemos ser primeiramente homens, e só posteriormente súditos. Cultivar o respeito às leis não é desejável no mesmo plano do respeito aos direitos. A única obrigação que tenho direito de assumir é fazer a qualquer momento aquilo que julgo certo".

Vale esclarecer que quando fala em desobedecer ele está apenas defendendo a idéia de que não precisamos, mais ainda, NÃO DEVEMOS nos curvar à um governo em que não acreditamos, do qual não compartilhamos idéias e muito menos ações; não devemos alimentar um Estado que usa o nosso dinheiro para sustentar e cometer injustiças:


"O direito á revolução é reconhecido por todos, isto é, o direito de negar lealdade e de oferecer resistência ao governo sempre que se tornem grandes e insuportáveis sua tirania e ineficiência".

"A autoridade do governo ainda é impura. Para se tornar totalmente justa, ela precisa contar com a sanção e com o consentimento dos governados".


Creio que mais do que fazer uma crítica, Thoreau devia ter a intenção de mobilizar; a intenção de que seu discurso fosse de fato ouvido, que tivesse o poder de causar uma revolução:

"Se mil homens não pagassem seus impostos no ano corrente, isso não seria iniciativa tão violenta e sanquinária quanto o próprio pagamento, já que neste caso o Estado fica capacitado para cometer violências e para derramar o sangue dos inocentes. em verdade,´esta é a definição de uma revolução pacífica, caso isso se possa conceber."

"É costume afirmar que os homens em geral são despreparados. se as melhorias são lentas, é porque a minoria não é substancialmente mais sábia ou melhor do que a maioria. que muitos sejam tão bns quanto você não é tão importante, mas sim que haja em algum lugar alguma porção absoluta de virtude. em verdade, isso bastará para fermentar toda a massa."

Na verdade, pelas palavras do próprio Thoreau, não basta achar algo errado; é importante fazer algo de efetivo para que esse algo termine. então, trazendo para nossa realidade, precisamos sim de homens virtuosos, mas principalmente precisamos de mais ação, ao invés de apenas discursos e omissões...e tenho pra mim que de certa forma ele alcançou o que gostaria com o seu discurso. Exemplo disso é que Gandhi usou-o como inspiração para a sua concepção de resistência passiva.

o livro é pequeno e excelente. leitura recomendadíssima!! [aliás, espero que o "indicador" ache o mesmo ;)].



Adendo: A edição da Martin claret [imagem acima] traz "outros escritos"; mais 4 textos igualmente curtos, e estes comentarei em outras oportunidades :)