Mas nem precisei avançar muito. Logo depois do sumário, na sessão "caros leitores", onde estes normalmente comentam a edição anterior, a última nota me chamou muito a atenção. intitulada "40% de desconto", trazia o texto indignado de um assinante, que ás vesperas de renovar a assinatura da revista, se deparou com um desconto de 40% para os filiados do PT - Partido dos trabalhadores.
A crítica do leitor, que considero pertinente, ponderava sobre como uma revista pode ser independente se depende finaceiramente de uma legenda política. A resposta da edição falava sobre a revista sobreviver principalmente das assinaturas, e dava o desconto aos filiados ao PT, assim como também trabalhava da mesma forma com outros partidos de esquerda e segmentos democráticos.
Contudo, fiquei pensando: que esquerda? Nem vou entrar no mérito de acreditar que uma revista como a Caros Amigos [deveras conceituada e respeitada] deveria ser totalmente disvinculada de qualquer espécie de partido político. É muito perigoso esse tipo de associação justamente por ameaçar a liberdade de quem escreve...até porque falar mal de quem põe a comida na mesa normalmente é complicado. Mas bem... voltando: onde está essa esquerda que todo mundo fala? [inclusive o editorial da caros Amigos]
Há um tempo atrás - quando era bem mais nova e estudava história na escola - imaginava que esquerda era o que não estava no poder. Simples assim. Tá governando? é direita. Mudei de idéia quando Lula foi eleito pela primeira vez. todo mundo falava: "e agora com a esquerda no poder..." e a partir disso comecei a pensar que uma vez esquerda, sempre esquerda. Esquerda seria então um modo diferente e melhor de enxergar o mundo - e fazer acontecer.
Mas foi justamente Lula que voltou a me fazer mudar de idéia. Se Lula continuou uma cartilha - melhorada é bem verdade - de muita coisa anterior a ele, ele continua sendo de esquerda ou não? - eis uma dúvida sincera. Lula não sei, mas Heloísa Helena e sua trupe, a "ala radical do PT" [ denominação estranha porque nos bons tempos todo o PT costumava ser radical] , hoje discidente, é que são considerados a esquerda no país. Ser esquerdista é sinônimo então de revolucionário? - mas cadê essa revolução que nunca veio?
O que quero dizer, nessas mal traçadas linhas, é que não acredito mais em "esquerda" no Brasil - pelo menos com o significado que eu acreditava ter quando criança. vejo apenas a repetição de velhos erros. Deveríamos aliás abolir essas denominações para sempre. Na minha opinião não há esquerda ou direita. Há quem está no poder e quem busca desesperadamente por ele.
Um comentário:
Tô gostando de ver o "período produtivo" em que a blogueira se encontra. :D
Gostei muito do teu texto, como já é de praxe, e também me chamou a atenção ao tal desconto privilegiando determinado grupo de assinantes em detrimento de outros. Isto para mim só faria com que a revista continue segmentada em termo de consumo: só assina quem se diz/posiciona "de esquerda". Eu, sendo "de direita", não assinaria.
E já que o assunto foi "esquerda ou direita", vou tentar dizer, sucintamente, o que penso sobre isto: em primeiro lugar estar no poder é, em verdade, ser 'a situação', independente de ser "de esquerda" ou "de direita".
Quanto a estas denominações, eu sempre compreendi, em tempos hodiernos, 'a esquerda' como sendo os partidos/pessoas que se posicionavam de modo a privilegiar o aspecto social, o povo, as minorias, a busca da igualdade [ou, pelo menos, a redução das desigualdades], por meio do Estado, que exerceria o papel central, sendo, pois, a força-motriz da consecução de tais objetivos.
'A direita' por outro lado são os partidos/pessoas que defendem o elitismo, o privilégio de grupos [ainda que nacionais], um Estado por vezes apenas regulador, exercendo, inclusive, um papel mínimo economicamente.
Mas obviamente estes conceitos hojem causam muita confusão quando vemos um governo Lula com traços de um e de outro posicionamento ideológico.
Penso que os conceitos que temos hoje foram de tal forma esvaziados que aquilo que podemos entender como 'esquerda' no nosso país é associado à baderna, extremo radicalismo, beirando até mesmo a loucura.
Não tenho dúvida em qualificar Heloísa Helena como alguém de esquerda, e é para onde meus caminhos ideológicos sempre apontaram!
Valeu pelo texto e espero que leia toda a revista [ou quase toda]
beijo
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