domingo, 18 de janeiro de 2009

Esquerda? onde?

Diversificando um pouco a leitura, porque nem só de livros vive o homem, ontem comecei a folhear a "Caros Amigos" de novembro/2008 que há tempos está na minha mão, porém ainda não tinha me ocupado dela.

Mas nem precisei avançar muito. Logo depois do sumário, na sessão "caros leitores", onde estes normalmente comentam a edição anterior, a última nota me chamou muito a atenção. intitulada "40% de desconto", trazia o texto indignado de um assinante, que ás vesperas de renovar a assinatura da revista, se deparou com um desconto de 40% para os filiados do PT - Partido dos trabalhadores.
A crítica do leitor, que considero pertinente, ponderava sobre como uma revista pode ser independente se depende finaceiramente de uma legenda política. A resposta da edição falava sobre a revista sobreviver principalmente das assinaturas, e dava o desconto aos filiados ao PT, assim como também trabalhava da mesma forma com outros partidos de esquerda e segmentos democráticos.

Contudo, fiquei pensando: que esquerda? Nem vou entrar no mérito de acreditar que uma revista como a Caros Amigos [deveras conceituada e respeitada] deveria ser totalmente disvinculada de qualquer espécie de partido político. É muito perigoso esse tipo de associação justamente por ameaçar a liberdade de quem escreve...até porque falar mal de quem põe a comida na mesa normalmente é complicado. Mas bem... voltando: onde está essa esquerda que todo mundo fala? [inclusive o editorial da caros Amigos]

Há um tempo atrás - quando era bem mais nova e estudava história na escola - imaginava que esquerda era o que não estava no poder. Simples assim. Tá governando? é direita. Mudei de idéia quando Lula foi eleito pela primeira vez. todo mundo falava: "e agora com a esquerda no poder..." e a partir disso comecei a pensar que uma vez esquerda, sempre esquerda. Esquerda seria então um modo diferente e melhor de enxergar o mundo - e fazer acontecer.

Mas foi justamente Lula que voltou a me fazer mudar de idéia. Se Lula continuou uma cartilha - melhorada é bem verdade - de muita coisa anterior a ele, ele continua sendo de esquerda ou não? - eis uma dúvida sincera. Lula não sei, mas Heloísa Helena e sua trupe, a "ala radical do PT" [ denominação estranha porque nos bons tempos todo o PT costumava ser radical] , hoje discidente, é que são considerados a esquerda no país. Ser esquerdista é sinônimo então de revolucionário? - mas cadê essa revolução que nunca veio?

O que quero dizer, nessas mal traçadas linhas, é que não acredito mais em "esquerda" no Brasil - pelo menos com o significado que eu acreditava ter quando criança. vejo apenas a repetição de velhos erros. Deveríamos aliás abolir essas denominações para sempre. Na minha opinião não há esquerda ou direita. Há quem está no poder e quem busca desesperadamente por ele.




Um comentário:

Unknown disse...

Tô gostando de ver o "período produtivo" em que a blogueira se encontra. :D

Gostei muito do teu texto, como já é de praxe, e também me chamou a atenção ao tal desconto privilegiando determinado grupo de assinantes em detrimento de outros. Isto para mim só faria com que a revista continue segmentada em termo de consumo: só assina quem se diz/posiciona "de esquerda". Eu, sendo "de direita", não assinaria.

E já que o assunto foi "esquerda ou direita", vou tentar dizer, sucintamente, o que penso sobre isto: em primeiro lugar estar no poder é, em verdade, ser 'a situação', independente de ser "de esquerda" ou "de direita".

Quanto a estas denominações, eu sempre compreendi, em tempos hodiernos, 'a esquerda' como sendo os partidos/pessoas que se posicionavam de modo a privilegiar o aspecto social, o povo, as minorias, a busca da igualdade [ou, pelo menos, a redução das desigualdades], por meio do Estado, que exerceria o papel central, sendo, pois, a força-motriz da consecução de tais objetivos.
'A direita' por outro lado são os partidos/pessoas que defendem o elitismo, o privilégio de grupos [ainda que nacionais], um Estado por vezes apenas regulador, exercendo, inclusive, um papel mínimo economicamente.
Mas obviamente estes conceitos hojem causam muita confusão quando vemos um governo Lula com traços de um e de outro posicionamento ideológico.

Penso que os conceitos que temos hoje foram de tal forma esvaziados que aquilo que podemos entender como 'esquerda' no nosso país é associado à baderna, extremo radicalismo, beirando até mesmo a loucura.

Não tenho dúvida em qualificar Heloísa Helena como alguém de esquerda, e é para onde meus caminhos ideológicos sempre apontaram!

Valeu pelo texto e espero que leia toda a revista [ou quase toda]

beijo